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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Begijnhof, comunidade feminina pioneira de Amsterdam.



“Nunca, na minha vida, me senti tanto fazendo parte de um universo feminino tão acolhedor, aconchegante, encantado. Não sei se, no fundo, eu não tenho a fantasia de pertencer a uma irmandade feminina (talvez a um imenso harém, sem sultão) onde se criem filhos, se teça, se faça arte, artesanato e se compartilhem histórias. Acho que isso vem também por causa de meus 25 anos vivendo dentro de corporações tão fortemente patriarcais... CRISTINA”

Essas são palavras da Cris que estão no nosso livro PEQUENO GUIA DE VIAGEM. Eu acredito que às vezes, ou muitas vezes, isso passa pela cabeça de muitas de nós.

Bom, algo parecido com isso aconteceu em Amsterdam, em plena Idade Média.

Havia um excedente de mulheres ocasionada pela violência e guerras que tiraram a vida de muitos homens. Um grande número não tinha opção a não ser ir para o convento.

Mas vários conventos cobravam taxas de admissão muito altas, ou tinham regras muito rígidas, e muitas mulheres não queriam nem se submeter a elas, nem ser comandadas por autoridades eclesiásticas.

Assim, no sec. 14, fundaram uma Ordem Católica de mulheres solteiras ou viúvas, as Beguines, que queriam ter uma vida independente e piedosa sem se tornarem freiras.

Estabeleceram-se num local central de Amsterdam, em casinhas em redor de um pátio, onde moravam e trabalhavam. Não pagavam nada para morar lá, em troca de prestar cuidados aos doentes e de educar os jovens. 
 
A última Beguine morreu em 1970, e a mais famosa foi Cornélia Arens, cuja estatua está nessa  foto à esquerda que tirei lá três anos atrás.

É um lugar encantador, onde se sente orgulho das pioneiras libertárias que ali viveram com independência em épocas tão difíceis para as mulheres. 


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Maria Bethânia - A PALAVRA

 

Esse vídeo maravilhoso traz Bethania falando das palavras, de livros, dizendo poemas, cantando músicas, num ambiente bem íntimo. 

sábado, 27 de outubro de 2012

Pensamentos e Imagens

Embora os mitos pessoais dêem um sentimento de identidade, coesão e segurança, se não sofrerem uma revisão de tempos em tempos acabam se tornando inibidores e maçantes. Para nos mantermos pessoas vibrantes ao longo de toda a existência, temos que estar sempre nos inventando, compondo temas novos para nossas narrativas de vida. 
Sam Keen

 
Viver é transformar-se! A cada dia, a cada mês, ano ou década precisamos sempre nos reinventar, mergulhando cada vez de forma mais profunda dentro de nós e em nossas experiências. É ao surpreendermos a nós mesmos e enxergarmos facetas e possibilidades que nem tínhamos idéia de existir que permanecemos vitais! Temos sempre que nos desconstruir para nos construir de forma mais autêntica e madura, temos sempre que “morrer” para de fato continuarmos VIVOS! 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Prática de percepção: TOCAR



Com uma das mãos, a Dama toca o mastro da flâmula que contém seu brasão.

Tocando atentamente as coisas externas e sentindo-as internamente, elas passam a pertencer para sempre à nossa alma, da mesma forma que o brasão pertence à Dama e à sua nobre linhagem. 


A ideia destas práticas simples é prestar atenção às nossas sensações corporais e percepções, e conectá-las a nosso mundo interno. Se quiser mais informações sobre isso, clique AQUI.
 
Não é preciso ter feito as práticas anteriores para fazer a de hoje, que consiste em:

1. AFASTAR OUTROS ESTÍMULOS E CONCENTRAR-SE SÓ NISSO. Não mexer nem olhar para o computador, celular, televisão, desligar o som, não falar, ficar parada.

2. TOCAR ALGUMAS SUPERFÍCIES E OBJETOS COM O MÁXIMO DE ATENÇÃO, DE OLHOS FECHADOS. Eu gosto de fazer essa prática de manhã, quando sinto o tato despertar mais intensamente do que os outros sentidos: vou percebendo a temperatura fora da cama, o frio da água na pia, a maciez da pisada no tapete, etc. Mas não importa o horário ou as coisas que escolhemos para tocar.

3. DAR QUALIDADES às coisas tocadas, PERCEBER OS SENTIMENTOS que trazem e fazer ASSOCIAÇÕES EMOCIONAIS COM OUTRAS COISAS (lembranças, ideias, pessoas, lugares, etc). Eu sigo mais ou menos o roteiro abaixo, mas não precisa responder a todas as perguntas. Outra opção é se concentrar em apenas uma ou duas das perguntas.

4. DURAÇÂO: alguns minutos

E se a gente descobrir melhor como a textura de algo comum (a superfície da mesa de trabalho, do livro que lemos, de uma casca de cebola) é interessante, OBA! Se notarmos como é rico o que o simples cotidiano coloca à nossa disposição, OBA OBA! A Dama está nos tocando! 

Roteiro: O objeto que estou tocando é duro, mole, rígido, flexível? Sua superfície é áspera, lisa, enrugada, peluda, ondulada? É fria, quente, morna? É composta de várias coisas ou é uma peça única? È gostosa de encostar ou é desagradável? Tenho vontade de toca-lo mais tempo ou quero parar e escolher outro? Tenho vontade de passar a mão por ele ou prefiro ficar com a mão parada? Ele é meu ou é de outra pessoa ou é emprestado? Como me sinto em relação a possuí-lo ou não? Se fecho os olhos e passo a mão ou o pé por ele, muda alguma coisa na minha percepção interna dele? Ele me faz recordar alguma outra coisa, pessoa, época da vida ou experiência? Traz alguma ideia, vontade? Me vem a mente alguma palavra, imagem, sensação?

Coloquei a minha pratica abaixo, para ilustrar.  Se tiver tempo e vontade escrever, desenhar ou apenas contar sua experiência para alguém é ótimo. Também pode comenta-la aqui mesmo.

 
Quando a vida relaxa

Manhãzinha, água fria da torneira escorrendo pela minha mão me lembra um vestido de seda verde que, quando menina, eu costumava colocar para brincar de princesa. 

Nem começava a vesti-lo e já estava com ele, que escorregava pelo meu corpo tão rapidamente quanto rápida termina nossa infância. 

É uma sensação de tocar o passar do tempo, como se o tempo fosse pés afundando na areia, ou como se fosse a própria areia escorrendo na antiga ampulheta do meu pai...

Abro a porta do quarto, dura manivela, e sem querer risco a unha na lisura metálica, arrepio, ui!

Na sua caminha do corredor, meu cachorro ainda dorme. Sento-me ao lado dele, bunda insegura afundando na almofada de cetim. 

Passo a mão no corpinho peludo. Invejo um pouco essa confiança de animal adormecido, que eu só tenho às vezes, quando a vida relaxa.  

E dentro de mim tudo se aquece num amor simples, primitivo, e me expando tanto que não é apenas minha mão que toca o cachorro, mas todas as partes de mim respiram com ele em sua calma digna. 



Texto de Beatriz Del Picchia, imagens das tapeçarias da Dama e o Unicórnio expostos no Museu de Cluny, Paris.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Poesia é remédio - Poética de Manuel Bandeira

Quando você estiver carente de beleza, cansado da mediocridade, farto das pequenas mesquinharias, entediado com a pequenez e mesmice que nos assola, se vista com uma roupa BEM extravagante, pinte seu rosto de cores fortes, abra a janela da sua casa e grite para o mundo a 

Poética, de Manuel Bandeira.



  
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor. 
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Filme: Branca de Neve e o caçador





Apesar de ter uma madrasta má – muito má mesmo! - aqui Branca de Neve não é uma vitima indefesa.
Pelo contrario, é uma moça ativa, que faz acontecer. Luta, sabe o que quer, é inteligente.
Os homens me parecem ser mais coadjuvantes da briga das duas mulheres, que radicalmente polarizam o Bem e o Mal.

Elas simbolizam a arquetípica concepção de que “o que acontece ao rei acontece à terra”.
Isso quer dizer que um mau rei ou rainha fará com que sua terra não frutifique, tornando-se uma terra devastada onde nada brota.
Em outras palavras, num lugar onde os governantes não têm honra não há felicidade para o povo.
Será que isso só acontece nos contos de fadas?

Assim, a terra que a má rainha governa é seca, perigosa. Já onde Branca passa florescem as plantas, cantam os pássaros...
Por isso ela terá o apoio de todos e será a dirigente da revolta contra a rainha.

Enfim, gostei dessa história que mantém a pegada tradicional no aspecto mitológico, mas na qual é a princesa, e não seu namorado príncipe, que assume seu sangue real e o dever de guiar o povo.

Não curti tanto a atriz principal, que a meu ver é um pouco inexpressiva.
Mas o filme é muito belo, bem feito, e para quem gosta de contos de fadas como eu, vale a pena assistir.

sábado, 20 de outubro de 2012

Pensamentos e Imagens

A ausência de significado na vida representa um papel crucial na etiologia da neurose. Uma neurose tem que ser entendida, em última análise, como um sofrimento da alma que não descobriu seu sentido e objetivo. 
Carl Jung